Claparède e a Psicologia Infantil
Adequação ao ambiente
Claparède defendia uma abordagem funcionalista da psicologia, pela qual o ser humano é, acima de tudo, um organismo que “funciona”. Os fenômenos psicológicos, para ele, deviam ser abordados “do ponto de vista do papel que exercem na vida, do seu lugar no padrão geral de comportamento num determinado momento”. Com base nisso, o pensamento é tido como uma atividade biológica a serviço do organismo humano, que é acionado diante de situações com as quais não se pode lidar por meio de comportamento reflexo. “Claparède defendia o estudo dos processos psicológicos como funções de adaptação ao ambiente”, afirma Regina Campos.
Esse raciocínio levou Claparède a formular a lei da necessidade e do interesse, ou princípio funcional, que o tornou conhecido. Segundo ela, toda atividade desenvolvida pela criança é sempre suscitada por uma necessidade a ser satisfeita e pela qual ela está disposta a mobilizar energias. “O interesse é considerado a tradução psicológica da necessidade do sujeito”, explica Regina Campos. Cabe então ao professor colocar o aluno na situação adequada para que seu interesse seja despertado e permitir que ele adquira o conhecimento que vá ao encontro do que procura.
“É a necessidade que põe em movimento os indivíduos – animais e homens – e que faz vibrar os estímulos interiores para suas atividades”, escreveu Claparède. “É isso que se pode notar em todo lugar e sempre, exceto, é verdade, nas escolas, porque estas estão fora da vida.”
Aprendizado ativo
Claparède criticava a escola de seu tempo com os mesmos argumentos do filósofo norte-americano John Dewey (1859-1952) – com quem compartilhava a pregação por uma escola que chamavam de “ativa”, na qual a aprendizagem se dá pela resolução de problemas – e dos pedagogos do movimento da Escola Nova. Todos eles condenavam a escola tradicional por considerar o aluno como receptáculo de informações e defendiam a prioridade da educação sobre a instrução. “O saber não tem nenhum valor funcional e não é um fim em si mesmo”, defendia Claparède.
Surge com esses pensadores a noção de que a atividade, e não a memorização, é o vetor do aprendizado. Daí a importância que Claparède conferia à brincadeira e ao jogo. Eles seriam recursos na estratégia de despertar, no ambiente da escola, as necessidades e os interesses do aluno. “Seja qual for a atividade que se queira realizar na sala de aula, deve-se encontrar um meio de apresentá-la como um jogo”, sugeriu Claparède. “Ele sustentava a idéia, totalmente nova para sua época, de que o sujeito psicológico é um sujeito ativo”, diz Regina Campos. Segundo o psicólogo, conforme a criança cresce, a idéia de jogo vai sendo substituída pela de trabalho, seu complemento natural.
Como os demais defensores da escola ativa, Claparède condenava o ensino de seu tempo por não dar suficiente infra-estrutura aos educadores para uma prática profissional metódica, amparada pela ciência e que permitisse a atualização constante. Mas ele tinha uma visão bem mais utilitária da escola do que seus pares. Em vez de dar à criança condições de viver da melhor forma possível a infância, ele acreditava que a escola deveria priorizar o “rendimento” do aluno, ou seja, justificar os recursos fartos que, naquela época, os governos europeus começavam a canalizar para a educação. A escola, segundo Claparède, deveria formar bons quadros profissionais para servir a uma sociedade que investia nessa formação. O cientista defendia até uma atenção diferenciada para os estudantes que se revelassem mais aptos, de tal forma que pudessem ser submetidos a exigências maiores em classes constituídas apenas de “bons alunos”.
Escolas talhadas para os alunos
Claparède justificava sua proposta de uma “escola sob medida” (título de um de seus livros) dizendo que, na impossibilidade de haver uma escola para cada criança ou para cada tipo de inteligência, o sistema mais próximo disso seria o que permitisse a cada aluno “reagrupar o mais livremente possível os elementos favoráveis ao desenvolvimento de suas condutas pessoais”. Para isso, o psicólogo pregava reduzir o currículo obrigatório a conteúdos suficientes para a transmissão de um conhecimento que constituísse “uma espécie de legado espiritual de uma mesma geração”, deixando a maior parte do período letivo para atividades escolhidas pelo próprio aluno.
Claparède recomendava ainda a adoção de outras estratégias, isoladamente ou combinadas, para o melhor aproveitamento das potencialidades intelectuais dos alunos, como as classes paralelas (uma para os estudantes mais inteligentes, outra para aqueles com maior dificuldade de aprendizado) e as classes móveis (que dariam a possibilidade de um mesmo aluno acompanhar diferentes disciplinas em ritmos diferentes, mais acelerados ou mais lentos, de acordo com suas aptidões).
Fonte : Nova Escola http://criticaehistoria.blogspot.com
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